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Michelangelo

(1475-1564)

 

Michelangelo di Ludovico Buonarroti Somoni.

 

Criado por uma ama de leite cujo marido era cortador de mármore, Michelangelo afirmou, por graça, ter sido este o culpado da sua vocação como escultor.

 

Aos treze anos, contrariando o pai, ingressa como aprendiz na oficina de Domenio Ghirlandaio. Aí manteve-se apenas durante um ano, pois considerou a pintura uma arte demasiado limitada e de ensino moroso. Michelangelo procurava assim uma expressão mais ampla e monumental. Foi o primeiro artista ocidental a reivindicar independência criativa.

 

Assim ingressa no Jardim de São Marcos, uma escola de escultura em Florença, propriedade de Lourenço de Médici, mergulhando assim no pleno ambiente renascentista italiano. Deste modo teve acesso à colecção de esculturas antigas de Lourenço e recebeu formação em escultura com Bertoldo di Giovanni. Este ambiente assenta perfeitamente nas ideias de Michelangelo, que tem na Grécia Antiga o seu ideal de beleza.

 

As suas influências foram Giovanni Pisano, Niccolò dell’Arca, Jacopo della Quercia, Donatello. Apesar de se mostrar fiel a estes modelos sempre procurou uma abordagem individual.

 

Para Michelangelo esculpir era uma sucessiva remoção do supérfluo da pedra. Acreditava que, como escultor, apenas se limitava a “libertar” a figura de dentro da pedra, pois a estátua já se encontrava no seu interior. Num dos seus poemas comparou o processo escultórico com o acto de Deus tirando o homem do barro.

 

A escultura em mármore era a sua técnica favorita, onde se reflectia a sua extraordinária técnica que vai desde a escolha dos blocos até ao esmerado polimento final. O seu tema principal é a figura masculina nua.


A sua linha é caracterizada pelo equilíbrio ideal entre-estática e movimento. O realismo e a harmonia reinam, associadas a uma técnica irrepreensível. Até as suas pinturas possuem carácter escultórico.


Uma das suas primeiras obras é datada de 1491 – Madonna da Escada, seguindo-se A Batalha dos Centauros no ano seguinte. Esta ultima obra – um baixo-relevo mitológico - é uma variação de um motivo encontrado num sarcófago romano, sendo considerada umas das composições mais avançadas tecnicamente de sua época. 

Imagem  104 - Madonna da Escada

Após a morte de Lorenzo, em 1492, Michelangelo deixou Florença, fixando-se em Bolonha. Aí esculpiu o Cupido Adormecido.

Imagem  106 - Cupido Adormecido

 

No ano de 1496 em Roma inicia a sua primeira composição de larga escala – Baco bêbado – uma estátua em mármore com cerca de 203 cm de altura. Encomendada pelo coleccionador Jacopo Galli para o seu jardim pessoal, representa o Deus da mitologia romana, Baco. Fortemente inspirada em modelos helenistas, é uma figura desequilibrada e sensual, quase burlesca, com curvas e superfícies polidas que captam habilmente a luz.
Encontra-se actualmente no Museu Nacional de Bargello em Florença. 

Imagem  107 - Baco Bêbado

No ano de 1498, com 23 anos de idade esculpe Pietà, uma das suas obras mais notáveis. Feita em mármore, tem 174 x 195 cm. 


Foi encomendada por Jean Bilhères de Lagraulas que solicitou uma imagem da Virgem para a antiga Basílica de São Pedro.


A dor de Maria sobre o corpo morto do filho é um tema que vem da Europa do Norte, mas Michelangelo optou por uma visão idealizada da cena, ao contrario do realismo cruel típico do género. Há um clima de profundo pesar mas sem o sofrimento imprimido por outros artistas que realizaram a mesma cena.

 

Consta que foi a única obra assinada pelo escultor (a assinatura encontra-se na fita que a Virgem apresenta ao peito). Muito elogiada pelo seu finíssimo acabamento de superfície, o mármore encontra-se polido como se fosse marfim. A superfície branca da pedra está polida de forma a que quase parece translucida. É uma composição com uma melancolia indescritível envolvendo as figuras belas e clássicas. Representa Cristo morto nos braços da Virgem Maria.

 

No entanto, Cristo encontra-se deitado no colo de sua mãe como se dormisse, com fácies tranquila e sem sinais de sofrimento. O seu corpo é representado com beleza, sendo que as suas chagas mal se visualizam. A Virgem é representada bela e jovem, revelando serenidade numa postura contida.

 

De salientar a diferença de proporções entre ambos. Se a Virgem estivesse de pé seria muito maior do que o filho. As proporções foram deliberadamente alteradas para dar a ideia de que a Virgem é a mãe e Cristo o filho ao seu colo, harmonizando assim a figura.


É uma composição piramidal, formato muito utilizado pelos artistas renascentistas, que veicula assim o pathos melancólico – influência dos clássicos gregos.
 

Encontra-se na Basílica de São Pedro, protegida por um vidro à prova de bala desde que foi atacada em 1972.

 

Imagem 109 - Pietà

Em 1501, Michaelangelo inicia uma das suas obras mais maduras, aproveitando um bloco de mármore gigante abandonado há 40 anos no pátio da Catedral de Florença. Assim, três anos depois, surge David, uma grandiosa estátua de mármore com 5,16 metros e 5,5 toneladas de peso.


A figura encontra-se inteiramente nua, nos momentos imediatamente antes do início da batalha com Golias. Esta é uma inovação dado que os anteriores artistas retratavam David após a batalha. A utilização do nu é uma clara alusão aos nus heróicos do classicismo. O autor utiliza predominantemente linhas curvas. Apresenta uma expressão tensa, mas não angustiada, mostrando a concentração de energia que antecipa o duelo. O seu ar desafiador mostra a “acção em suspenso”, uma das características das obras de Michelangelo.

 

A nível dos olhos o autor perfurou a região da pupila em forma de V, de modo que quando a luz incide sobre os olhos transversalmente, ilumina mais a área ressaltada deixando na penumbra a região cavada. Assim, os olhos, extremamente realistas, parecem brilhar com o espírito do rei guerreiro.
 

Com uma anatomia perfeita, os músculos e tendões no seu pescoço parecem tensos, a testa franzida e as veias da mão direita estão salientes. O hemicorpo direito encontra-se tenso, por oposição ao esquerdo que apresenta uma postura relaxada.
 

O heroi não é representado com a cabeça do Golias, como no trabalho de Donatello e de Verrocchio.


David é um símbolo do civismo republicano de Florença, representa a defesa das liberdades civis consagradas em Florença. Simbolicamente representa a luta contra o destino, como David perante Golias.
 

Actualmente encontra-se na Galleria dell’Accademia, em Florença, sendo possível observar uma réplica na praça central de Florença, defronte ao Palazzo della Signoria, sua primeira localização.

 

Imagem 113 - David

Após a realização de David a sua obra começa a encaminhar-se para o estilo maneirista. 


Em 1505, Michelangelo é chamado a Roma pelo Papa Júlio II, que lhe solicita uma estátua sua em bronze para a cidade de Bolonha. Esta estátua foi destruída quatro anos mais tarde, destruídas por uma facção politica inimiga do Papa, quando Bolonha readquiriu a independência. Consta que o que restou da obra foi vendido a Alfonso d’Este, que construiu um canhão.

Com a morte do Papa Júlio II, Michelangelo inicia a realização do seu monumental túmulo, da qual fariam parte 32 estátuas.

 

Do projecto original, e após vários conflitos com o Papa, restou Moisés, uma das esculturas secundárias. Realizada entre 1513 e 1515, esta obra revela um personagem grandioso, líder sensato, mas, ao mesmo tempo, capaz de uma ira arrasadora.

 

 

Imagem  105 - Batalha dos Centauros

Imagem  108 - Baco Bêbado

Imagem  110 - Pormenor de Pietà

Imagem 112 - Pormenor de Pietà

Imagem 114 - David

Imagem 115 - Pormenor de David

Imagem 116 - Pormenor de David

Deixou algumas obras inacabadas, entre elas dois Escravos, realizados entre 1513 e 1516 e um Cristo Redentor  para a Igreja de Santa Maria de Minerva (1519-1520)

Imagem 117 - Moisés

Imagem 118 - Pormenor de Moisés

Personificava não só o ideal do homem do Renascimento como também pretendia servir como uma mensagem para se a sociedade da época encarnasse esse ideal, no fundo, o mesmo desejo de Moisés, ao trazer as tábuas da lei que deveriam reformar a sociedade do seu tempo.

 

Dotada de uma beleza e realismo incríveis, consta que, após a concluir, o autor passou por um momento de alucinação diante da beleza da escultura.

 

Diz a lenda que, dado o seu realismo, Michelangelo ao terminar o trabalho bateu com um martelo na estátua e começou a gritar: “Porque não falas?” 

Imagem 119 - Escravo

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